SWEENEY TODD
Espetáculo para os olhos, mas não tanto para os ouvidos

Cine Players ~ Rodrigo Rosp
10 de fevereiro de 2008

Sweeney Todd é um musical, e, portanto altamente recomendado apenas para os fãs do gênero. Ou talvez para aqueles que o suportem. Pois é musical mesmo, daqueles em que o cara canta uma música inteira só para pedir uma cerveja. Ok, se você é fã de musicais sabe bem o que é isso – e, não, no filme, ele não canta uma música para pedir uma cerveja, foi só um exemplo. Mas ele canta muito. Ela canta, eles cantam. Toda a conjugação do verbo cantar está presente. Até uma criança canta. Sei que isso pode parecer preconceito, sei que pode até ser preconceito. Mas a pergunta que deixo no ar é: seria realmente necessário que Sweeney Todd fosse um musical?

A história contada no filme é bastante simples: um barbeiro, que havia sido afastado de sua mulher e filha e mandado à prisão injustamente por um juiz inescrupuloso, volta para buscar vingança implacável. Para isso, ele se associa a uma estranha fazedora de tortas e conta com a ajuda (ou não) de um marinheiro interessado na filha (que já cresceu, depois de ter sido criada pelo juiz).

Na primeira parte, a produção se mostra um musical, cheio de músicas – agradáveis, mas meio parecidas, o que dá a sensação de falta de movimento. Se o espectador conseguir superar esse momento de dificuldade, vai encontrar muita coisa boa. Afinal, quando a história passa a andar, e a personalidade do barbeiro começa a ser revelada, tudo fica muito interessante. Claro que ainda há músicas aqui e ali, mas mais sutis e mais relevantes à trama, que se revela agradável e consegue prender a atenção.

Merecem destaque as atuações da maior parte do elenco. O par central (Johnny Depp e Helena Bonham Carter), sempre com as feições pálidas e olhar fantasmagórico, brilha e oferece veracidade aos seus personagens. Outro nome que surge bem na tela é de Sacha Baron Cohen, que surpreende ao se mostrar livre do rótulo de Borat e apresenta naturalidade em um papel, ainda que pequeno, instigante. Tudo isso se deve à mão de Tim Burton, experiente na direção de atores; mas a mais marcante característica do diretor é outra, que se torna destaque em Sweeney Todd.

O grande mérito do filme é a composição visual. A direção de arte é primorosa, e serve como peça fundamental para que o espectador entre na história, ou melhor, entre no clima da história. Em contrapartida a tudo que há de escuro e preto e cinza, surge um vermelho vivo cada vez que jorra sangue. O efeito visual que isso causa é ótimo, e quebra uma eventual obviedade que pudesse tomar conta – além disso, alia-se ao fato de, num musical aparentemente ingênuo (como costumam ser, muitas vezes, os musicais), haver um barbeiro cruel, um anti-herói que se revela aos poucos. Esse vermelho vivo que salta aos olhos causa a mesma sensação de deslocamento que causa o personagem principal, e isso, sem dúvida, enriquece a produção.

No fim, a experiência de assistir a Sweeney Todd é ótima. Mas aquela pergunta volta a aparecer: e se não fosse um musical? E se adaptassem a boa história do musical da Broadway… para um filme sem músicas, contado através de diálogos normais? Se fossem mantidos o excelente cuidado visual e as boas atuações, é possível que resultasse um filme ainda melhor – quem sabe, mais visceral ainda? Não foi, no entanto, a decisão escolhida, e o Sweeney Todd que podemos ver é esse espetáculo delicioso para os olhos – e nem tanto para os ouvidos.