JIM DALE
Entrevista com Jim Dale e o CdF

Rochelle O’Gorman
Tradução: Abner Augusto Moreira

Os audio-books da série Harry Potter são todos lançados na íntegra nesse país, e Dale disse que demorou cerca de 10 dias para gravar o mais recente e longo dos livros de J.K. Rowling, “Harry Potter e o Cálice de Fogo”.

Dale ficou famoso, primeiramente, por uma série de filmes na Inglaterra, chamada “Carry On”. Essas comédias foram exibidas ao longo de vários anos nos cinemas e agora, segundo Dale, são exibidas na televisão britânica, assim como os episódios de “Star Trek” ou “Honeymooners” são exibidos aqui. Ele diz que as crianças mais jovens o conhecem de longe por aqueles filmes. Aqui, trata-se de uma inteira geração de jovens ouvintes que sabem o seu nome.

Recentemente, Jim Dale falou com Rochelle O’Gorman.

Rochele O’Gorman: Como tem sido para você desde quando começou a narrar os livros de HP? Isso tem afetado muito a sua carreira?
Jim Dale: Eu não acho. Não. Veja, minha carreira é como um ator no teatro, no palco. O trabalho com audio-books tem sido como um outro ramo do show, que eu nunca tinha explorado antes, e eu estou achando muito prazeroso. Susan Cooper, que é casada com Hume Cronin (ator), é uma escritora para crianças muito boa, e ela ouviu falar que eu estava gravando, e me perguntou se eu poderia gravar seu livro, chamado “King of Shadows”, e eu acabei fazendo. Então, agora, viajar no mundo dos audio-books é uma pequena aventura, ainda mais para a minha idade, e eu estou aproveitando cada minuto disso.

O’Gorman: Como os livros de HP acabaram cruzando seu caminho?
Dale: Um dos senhores, que trabalham na editora, ouviu falar que eles estavam procurando alguém que fosse capaz de reproduzir várias vozes, porque como você sabe, existem muitos. Ele lembrou de ter me visto, eu uma peça off-Broadway em que eu participei, chamada “Travels With My Aunt”. Ele lembra de quatro atores interpretando trinta papéis. O que ele esqueceu, foi que eu interpretei somente dois papéis, o do sobrinho e o da senhora de 84 anos. Ele sugeriu meu nome, e a próxima coisa que eu me lembro foi a ligação do meu agente. Eu estava absolutamente encantado com o mundo que ela (Rowling) tinha criado. E eu percebi que havia sete livros e se eu tinha sido chamado para gravar o primeiro, era quase inevitável que, se tivesse sucesso, seria chamado para gravar os outros seis também. Eu achava que seria maravilhoso ter os sete livros na prateleira da biblioteca para os meus netos.

O’Gorman: Como você se lembra de todas as vozes?
Dale: Você fica louco. Você fica completamente louco. Eu estava indo para casa à noite sem saber quem eu era. Eu nem tinha lido o quarto livro inteiro, por falta de tempo. Eles entregaram-me o livro na noite de sexta-feira, e eu tinha que estar no estúdio na segunda-feira, de manhã. Agora, como você pode ler 760 páginas em 48 horas, e inventar 127 vozes? Era muito. Então, eu disse que o único jeito seria ler 100 páginas no final de semana e criar vozes para aqueles personagens, e então, eu gravaria 100 páginas na segunda. Na segunda-feira à noite, eu leria outras 100 páginas e criaria aquelas vozes para serem gravas na terça, e assim sucessivamente.

Isso demorou 10 dias. Mas foi uma jornada fascinante, porque lá estava eu criando vozes e falando palavras, não sabendo que rumo a história estava tomando. Eu não sabia se a voz do personagem que eu estava reproduzindo era de um herói ou de um vilão, o que embora ajudasse, pois eu não entreguei o jogo, dando uma inflezão imprópria ou um tom mais cruel à voz. Eu simplesmente falava direto. E foi divertido. Eu estava morrendo de curiosidade para saber quem era o vilão enquanto ia me aproximando do final do livro.

O’Gorman: Você fez algum esquema para as vozes?
Dale: Oh, você tem que fazer, sim. Eu marquei o livro com diferentes lápis coloridos e tinha uma lista de personagens, ao longo do livro, com os lápis correspondentes aos seus nomes. Eu podia checar na lista a medida que ia lendo. Em relação a gravação, eu inventava uma voz e gravava em um gravador, em casa, com o nome do personagem, o número da página e o número da linha. No estúdio, eu tinha meu gravador comigo, junto com inúmeras notas. Claro, se eu errasse, nós tínhamos que parar. Na verdade, nós paramos várias vezes, mas eu acho que você nunca saberia se ouvisse a gravação.

O’Gorman: Você já teve outros papéis que requeressem tanta dedicação?
Dale: “Travels With My Aunt” tinha, eu acho, cerca de 1000 linhas para memorizar. Esse foi um grande, grande papel. Trocando de um personagem, sem colocar maquiagem, fantasia, era somente trocar de personagem num estalar de dedos. De repente, de um homem, e em um estalar de dedos, você se torna uma senhora de 84 anos. Muita preparação acontece na frente do espelho.

Muita preparação também tem que ir para as produções do palco, obviamente. A alegria em relação a gravação é que você é seu próprio chefe. Você não tem um diretor falando como se deve fazer isso ou aquilo. Você tem um produtor dizendo-lhe que talvez devesse projetar um pouco mais, segurar aqui, fazer aquilo. Mas não há ninguém que tenha suas próprias idéias para que você interprete.

Você tem que ir em frente, com esperança, com todas as instruções que o autor lhe dá. Ele descreverá o personagem em detalhes no livro e, então, depende de você em vestir as roupas e a pele desse personagem e ver o mundo com os olhos dele, mesmo se ele for o vilão. Você tem que amar o vilão se você tem que interpretá-lo. Você tem que procurar a viver com alguma coisa, em você mesmo, se você vai interpretar o vilão no palco, em alguma peça. E você procura pela mesma coisa quando está lendo um livro.

Você vê, quando as crianças, na América, lêem Harry Potter, elas criam vozes de personagens ingleses em suas cabeças. Se eles nunca ouviram o sotaque autêntico, então, eles perderão a diversão disso tudo. É somente quando eles ouvem alguém lendo as palavras ditas por um personagem, em um sotaque inglês, com uma dialética inglesa compreensível, que o personagem se torna real.

A leitura (narração) do livro dá vida a leitura, ainda mais porque você está ouvindo o que o autor queria que você ouvisse daquela voz, com aquele sotaque, com os coloquialismos que são usados.

O’Gorman: Que inspiração você usa para as vozes?
Dale: Quando você ouvia rádio antigamente, na Inglaterra, havia pessoas com vozes muito distintivas. Aquelas eram as vozes que faziam você rir. O que eu tentava fazer era levar minha memória de volta ao passado, quando eu estava ouvindo rádio, e lembrar algumas vozes claras que eram, talvez, um pouco excêntricas, talvez um pouco exageradas. Eu tento trazê-las para o livro, porque nós estamos em um mundo mágico. Quando você tem que fazer vozes de centauros e elfos, e talvez até de uma aranha gigante, você pode, na verdade, exagerar um pouquinho, como também fazer caretas. Você pode forçar as vozes, para fazer com que elas sejam originais e divertidas, esperançosamente.

Quando você lê um livro normal, você tem que usar uma voz normal, vozes do dia-a-dia. Mas no mundo de Harry Potter, ninguém é normal. Eles são todos maravilhosas criaturas estranhas e precisam de estranhas vozes, se for necessário.

O’Gorman: Eu gostei disso, “ninguém é normal”. Isso é ótimo. Você já escutou das crianças?
Dale: Oh, sim! Elas escrevem para os editores. Elas só querem saber perguntas como as que você me fez. Elas são tão curiosas, tão desesperadas para aprender qualquer coisa sobre esse mundo novo de HP.

O’Gorman: Você responde às perguntas delas?
Dale: Bem, claro. Eu sempre fiz isso. Qualquer carta de fãs que eu recebo, pode demorar um pouco, mas eu tento responder pessoalmente. Isso leva um certo tempo, mas eu acho que se alguma criança sentou-se e sentiu que eu sou importante o bastante, a ponto de escrever duas páginas de palavras e tirar uma parte de seu valioso tempo, então, ela merece algumas palavras de volta, ou mesmo ligações telefônicas, como eu tenho feito em algumas ocasiões.

O’Gorman: Você tem um personagem favorito?
Dale: Bem, obviamente; o gentil gigante Hagrid é um dos meus favoritos, porque ele é apenas uma das criaturas da louvável terra de Deus. E professor Alvo Dumbledore é um grande homem, como provavelmente sabem – e foi uma espécie de voz de John Houseman que eu usei. Eu não tentei fazer uma impressão de John Houseman, mas eu tinha esse elegante, sábio e sofisticado homem em meu plano de fundo, quando eu gravei a voz. E, em seguida, professora McGonagall, que é a voz da minha tia, de Edimburgo, na Escócia. Talvez Dobby leve o primeiro lugar, agora que eu me lembrei dele.