SWEENEY TODD
Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

Potterish.com ~ Arthur Melo
18 de fevereiro de 2008

Dificilmente um musical agrada o grande público. Com exceção de Moulin Rouge, poucos filmes do gênero conseguiram alcançar o mérito de sobreviver ao boca-a-boca. Há controvérsias sobre o caso, mas Sweeney Todd (Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street – EUA – 2007 – DreamWorks) caminha para o mesmo desfiladeiro de seus colegas. Não, o filme não é ruim. Aliás, este não é o ponto o qual merece debate. Afinal, uma obra com Johnny Depp (talvez o único ator de perícia que caiu no gosto comum – mesmo que por uma série de filmes banal, porém elaborada), dirigida por Tim Burton no auge de sua forma gótica e alimentada por tortas e sangue não é de fácil digestão (mas de cara, parece). Por toda a trajetória do longa, Burton passou a sugestão discreta de que usou o espelho do musical para ajudar a descer o filme goela abaixo. Não, o filme não é ruim.

De fato, o trabalho tem tudo o que é necessário para se arrancar elogios: boas atuações, cenografia e figurinos luxuosíssimos, fotografia linear, direção cuidadosa… a lista na verdade se prolonga tanto quanto o falsete de Anthony (Jamie Campbell) em sua exaustiva (para nós) declaração de amor. Mas o que afasta o longa do público é justo aquilo que os produtores entenderam como um outdoor para o mesmo: o musical. Funcionaria melhor como um filme de terror e suspense, fato. Ou quem sabe como uma comédia sangrenta, por mais inviável que possa parecer. Não há canções marcantes e prazerosas, o que faz-se presente é um conjunto de músicas que caem de pára-quedas na trama e tentam explicar os anseios e tramóias dos personagens e muito pouco de suas personalidades ou interação entre ambos. Não satisfeitas, algumas retornam no clímax do filme para torturar-nos e sentirmos na pele a raiva e agonia que o Sr. Todd sentia (se essa era a idéia, foi um jogo interessante – sim, a referência é a “I Feel You, Johanna”). Não, o filme não é ruim.

O humor negro da história é tão onipresente quanto o vermelho do sangue. As piadas são cuspidas por uma Helena Bonham Carter impecável. Suas falas são soltas e macias, em gestos que nos faz substituir um comentário sobre a preocupação em limpar um corpo dando-lhe a comer (você entendeu) por uma imagem limpa e clara de uma dona de casa receosa sobre uma chuva a molhar as roupas do varal. A contar pelo roteiro e por sua desenvoltura, sua personagem cria uma aceitação e valor maiores do que o protagonista, Sparrow. Digo, Todd. Não que valha desmerecimento, mas Johnny Depp muito se prendeu ao seu personagem mais interessante do filme mais vulgar. Jack Sparrow ainda está alí. Nos trejeitos discretos, entretanto suspeitos, nas expressões de espanto idênticas às mesmas de Sparrow para designar a mesma situação e até no tom de voz usado em alguns “tralalás” cantarolantes. Não que tenha sido prepotente sua indicação ao Oscar pelo papel do barbeiro demoníaco, mas é certo que a vitória, infelizmente, merece menos desta vez do que da última. Falha já não cometida por Alan Rickman. Apesar de seus cinco filmes seguidos na série Harry Potter como Severo Snape, Rickman distancia os personagens. O tom sereno é o mesmo, o andar suave se manteve; mas a articulação rápida e versátil o desmente no primeiro diálogo os textos ditos pausadamente por Snape.

O retrato cínico e marcante de Tim Burton é que dá ao filme o brilho que ele possui. É impossível não manter relações com “Edward – Mãos de Tesoura”, também com Johnny Depp. Mas a evolução é clara e satisfatória. Não por ser mais assustador e muito mais divertido devido a tantos exageros – postos nos momentos certos – mas por contornar uma criação que tem tudo para agradar a crítica e desapontar fãs e, no entanto, sustenta uma divisão não entre ambas, mas dentro dessas platéias com muita personalidade.