ORDEM DA FÊNIX
Lutas mágicas garantem diversão em novo “Harry Potter”

Folha de SP ~ Ana Alice Gallo
10 de julho de 2007

 

O mundo dos bruxos começa a se dividir e o dos fãs também em “Harry Potter e a Ordem da Fênix”, quinto filme da série criada por J. K. Rowling. Enquanto os espectadores presenciam nas telas a superprodução dirigida por David Yates — de encher os olhos, diga-se de passagem — que conta a preparação da comunidade bruxa para lutar contra o Lorde das Trevas, as poltronas começam a separar os fãs que conhecem a saga dos livros dos que apenas assistiram aos filmes.

O motivo é simples: traduzir as mais de 700 páginas (no caso da edição brasileira) para a linguagem do longa-metragem obrigou Yates a reduzir algumas passagens da narrativa a meras citações. Em outros momentos, o diretor fez escolhas um tanto arriscadas de eliminar certos trechos que, se não forem retomados no próximo longa, levarão os espectadores a um universo paralelo ao dos leitores.

O pecado da omissão, no entanto, não compromete o espetáculo. O novo capítulo cinematográfico da série começa como qualquer filme de terror adolescente: estética, ritmo e sustos empolgam os fãs nos primeiros minutos com a chegada inesperada de dementadores na vizinhança da família Dursley.

A trama segue desfilando temas que retratam a entrada definitiva do jovem bruxo ao tortuoso mundo adolescente. O uso de magia fora de Hogwarts leva Harry a um julgamento que, ao lado da indicação de um membro do Ministério da Magia para lecionar Defesa Contra a Arte das Trevas, traduz de forma brilhante a crítica à burocracia e às instituições, típica do universo jovem.

A nova professora de Hogwarts, Dolores Umbridge (Imelda Staunton), encarna com perfeição as duras punições das escolas tradicionais. A releitura desse tema se parece com uma versão revisitada de “The Wall”, filme do Pink Floyd sobre a opressão dos redutos escolares. Mas, na tentativa de expressar todos os conflitos internos vividos pelo protagonista, o filme se arrasta em alguns momentos de reflexões.

O tão esperado primeiro beijo de Potter com a chinesinha Cho Chang (Katie Leung) e os treinos de lutas do grupo de alunos que se autodenominam a Armada de Dumbledore substituem as empolgantes partidas de quadribol dos filmes anteriores. O filé da produção, no entanto, foi deixado para os confrontos finais.

Considerado o longa mais sombrio da série até mesmo pelo ator Daniel Radcliffe, “Harry Potter e a Ordem da Fênix” é abrilhantado pelas lutas entre os personagens principais e o verdadeiro exorcismo pelo qual o jovem bruxo tem de passar no embate com seu maior inimigo. Outro destaque fica por conta da atuação de Helena Bonham Carter como a enlouquecida e demoníaca Bellatriz Lestrange.

Nessa nova etapa, a saga consolida-se no universo teen e não deve em nada a outros títulos que exploram o medo, o amor e os efeitos especiais para arrebatar jovens espectadores. Deve um pouco apenas ao livro que o originou.